- e as sombras? - perguntou Benedita
- Procuram-se por entre a névoa das manhãs pardas, - respondeu-lhe complacente Zi, agitando as asas.
.- Mas Zi, e se me perco, como encontro o caminho?
. Há por lá vultos, imagens ténues dos seus limites, que se confundem com a neblina. Se te perderes fechas os olhos e sussurras a canção antiga, lembras-te?
- Sim, Zi lembro "sadi sobel sadi sobel si meti ot ramud", entoou Benedita, balanceando o corpo, um leve sorriso no olhar.
- Isso Benedita, disse Zi em alegre contentamento, e caminhas, segues pela névoa, por entre o tempo da eternidade até ao prado dos entes. Estão lá as sombras. A tua, como se há muito te esperasse, é de um profundo azul desaguado em verde. Encontra-a Benedita.
.....
- e as sombras? perguntou.se Benedita no momento do acordar , entre um bocejo e um esfregar de olhos.
Poisou-lhe nas mãos a borboleta, Zi.
- Vou já, vou já - gargalhou Benedita.
Sobre o monte sagrado a névoa guardava as sombras.
Em defesa da língua portuguesa, este blog não adopta o "Acordo Ortográfico" de 1990 devido a este ser inconstitucional, linguísticamente inconsistente, estruturalmente incongruente (para além de, comprovadamente, ser causa de crescente iliteracia em publicações oficiais e privadas, na imprensa e na população em geral)
domingo, 31 de dezembro de 2017
sábado, 7 de outubro de 2017
cacimbo(s)
vestia cacimbo, uma humidade quase quente que os rios largavam no entardecer dos dias tórridos. E assim passeava o corpo, confundindo os olhares de quem a olhava.
Mas a ele queria.
A cada passo sentia-lhe o arfar, a sofreguidão do toque, as coxas presas num enlace forte, a língua sequiosa a seguir-lhe o contorno do ombro, o côncavo do pescoço, as mãos em voo sobre as nádegas...ondearam-se-lhe as ancas, a recortar redondos profundos no calor desenhado na paisagem. Seguiam-na olhares sedentos, que em seco engoliam como se do cacimbo se saciassem.
Mas a ele queria.
ouviu-lhe o som grave e rouco da voz "sabes-me a chuva" dizia-lhe, e bebia nela rios.
Passou a palma da mão por sobre os seios, palpitava-lhe o coração que a ele queria. Havia cacimbo, uma humidade quase quente que dele trazia
Mas a ele queria.
A cada passo sentia-lhe o arfar, a sofreguidão do toque, as coxas presas num enlace forte, a língua sequiosa a seguir-lhe o contorno do ombro, o côncavo do pescoço, as mãos em voo sobre as nádegas...ondearam-se-lhe as ancas, a recortar redondos profundos no calor desenhado na paisagem. Seguiam-na olhares sedentos, que em seco engoliam como se do cacimbo se saciassem.
Mas a ele queria.
ouviu-lhe o som grave e rouco da voz "sabes-me a chuva" dizia-lhe, e bebia nela rios.
Passou a palma da mão por sobre os seios, palpitava-lhe o coração que a ele queria. Havia cacimbo, uma humidade quase quente que dele trazia
sexta-feira, 15 de setembro de 2017
tepidez
caminhou no silêncio. seguiu o trilho amarelo, da terra seca e compacta. os passos soavam compassados, cantavam ritmos na viagem. ladeavam-na muretes meios desfeitos de empedrado granítico pejados de silvas de onde pendiam amoras.
Tocava-lhe quente o sol. acoitou-se nas sombras de odor às maçãs bordejantes do caminho. eram esparsas mas tão frescas que a pele húmida se lhe vestiu de folhas. E ali colheu amoras.
Mais além ele esperava-a.
Despiu-se das folhas. os campos luziam entre sombras de verde escuro e dourados fortes. O Sol fugiu para além das pedras dos muros distantes. E ali abraçou-se a ele. Tocava-lhe quente, a pele húmida despida de sombras.
Aninhou-se-lhe no peito, as bocas a saberem a amoras.
Doce era a tepidez do fim do dia.
Tocava-lhe quente o sol. acoitou-se nas sombras de odor às maçãs bordejantes do caminho. eram esparsas mas tão frescas que a pele húmida se lhe vestiu de folhas. E ali colheu amoras.
Mais além ele esperava-a.
Despiu-se das folhas. os campos luziam entre sombras de verde escuro e dourados fortes. O Sol fugiu para além das pedras dos muros distantes. E ali abraçou-se a ele. Tocava-lhe quente, a pele húmida despida de sombras.
Aninhou-se-lhe no peito, as bocas a saberem a amoras.
Doce era a tepidez do fim do dia.
segunda-feira, 24 de julho de 2017
um beijo tresmalhado
não sei meu amor, por onde anda o meu desejo.
sei que me queima a boca
sei que me arde no peito
e sei meu amor, que me queimam os teus beijos
os teus olhos nos meus olhos
sôfrega a minha, na tua boca,
a tocar-te, quase sem jeito
e logo meu amor, quando em feno meus cabelos entrelaças
desalinhadas as vestes no meu corpo,
guardo-te no que sei do meu desejo
um beijo tresmalhado no meu ventre
um suspiro, um canto de sedução
onde sempre me afagas com paixão
sei que me queima a boca
sei que me arde no peito
e sei meu amor, que me queimam os teus beijos
os teus olhos nos meus olhos
sôfrega a minha, na tua boca,
a tocar-te, quase sem jeito
e logo meu amor, quando em feno meus cabelos entrelaças
desalinhadas as vestes no meu corpo,
guardo-te no que sei do meu desejo
um beijo tresmalhado no meu ventre
um suspiro, um canto de sedução
onde sempre me afagas com paixão
terça-feira, 18 de julho de 2017
ternos os teus dedos
sossega-se o meu no teu olhar quando o meu corpo quente e molhado me esmaga de paixão e delicados os teus dedos viajam à flor da minha pele.
-Amo-te - estremecem as palavras nos meus lábios - toca-me doce...
viajam ternos os teus dedos no meu dorso e o meu rosto descansa no teu peito
- Segui um pássaro para te encontrar - dizes-me.
desnudas-me a face dos cabelos húmidos, acaricias o lóbulo da minha orelha e sopras de mansinho no meu olhar
- Voa comigo - pedes-me - Perde-te comigo.
Desassossega-se o teu olhar, inquietas-me e logo me invades de tamanha doçura que se sossega em ti o meu olhar.
- Mando-te um pássaro todos os dias - digo-te.
no beiral chilreou o estornimho preto.
https://www.youtube.com/watch?v=bU_bGYaa3FY
-Amo-te - estremecem as palavras nos meus lábios - toca-me doce...
viajam ternos os teus dedos no meu dorso e o meu rosto descansa no teu peito
- Segui um pássaro para te encontrar - dizes-me.
desnudas-me a face dos cabelos húmidos, acaricias o lóbulo da minha orelha e sopras de mansinho no meu olhar
- Voa comigo - pedes-me - Perde-te comigo.
Desassossega-se o teu olhar, inquietas-me e logo me invades de tamanha doçura que se sossega em ti o meu olhar.
- Mando-te um pássaro todos os dias - digo-te.
no beiral chilreou o estornimho preto.
https://www.youtube.com/watch?v=bU_bGYaa3FY
terça-feira, 20 de junho de 2017
desenha-me beijos
havia uma dança no nosso caminhar, um bailar de ancas e de rodeios. falávamos com palavras tão mordidas de anseios.
o rio estava escuro e brilhava nele o luar.
tocaste-me a cintura por entre os desníveis das ameias, e disseste-me ao ouvido "para te sentires segura" ...e eu que queria navegar na lua derramada nas águas escuras.
dei-te a mão no breve instante em que me elevaste para logo me poisares na sombra da árvore grande.
foi quando te rocei o lóbulo da orelha e te segredei "desenha-me beijos"
segunda-feira, 5 de junho de 2017
ardes-me
sinto-te
ardes-me quando não me tocas e beijo-te
oh! como te beijo
se eu soubesse de mim, se me perdesse em ti, de ti
meu doce amor
ardes-me quando não me tocas e beijo-te
oh! como te beijo
se eu soubesse de mim, se me perdesse em ti, de ti
meu doce amor
sexta-feira, 12 de maio de 2017
Saturno: the precious stone
havia um barco e uma gaivota e havia o som do mar.
Havia luz e havia vento e eu mergulhei no teu olhar
havia o cheiro a maresia e nuvens brancas a passar
havia um sol que era magia e havia o facto de eu te amar
tinha brilho e uma risca cor de ferrugem, como se ali estivesse Saturno, the precious stone. Caminhava os pés na areia e ali, sem infinito, encontrou-a: so small, so brilliant...quase perdida.
Saturno, disse-lhe, tinha viajado desde um ponto distante para encontrar o calor do Sol.
Benedita abriu-se ao espanto, ali um pedacinho do Universo, de pó de estrelas a desejar ser encontrado.
Encostou o joelho ao areal tépido do fim de tarde e tocou-lhe, um pedacinho de si, tão doce.
Fechou-a na palma da mão pequena e consigo levou Saturno à beira do mar.
havia um barco e uma gaivota e havia eu no teu olhar
havia um sol que era magia. Dali voguei para te amar
quarta-feira, 19 de abril de 2017
se falasses como se me amasses
havia entre eles uma faísca, queriam-se quando os outros a sentiam.
Tinham acordado na caravela ao chegarem ao porto dos navegantes. Vestiam saudades, histórias de mares sagradas e de estranhas relações profanas.
- fundamentalmente amam-se memórias, disse-lhe. Quando corres, quando vibras acordas-me pensamentos já adormecidos e amo-te quando adormeces, junto a mim, no dealbar da manhã.
mordiscou-lhe o lóbulo da orelha enquanto lhe desnudava a nuca da cabeleira revolta. Havia um manso remanso no embate do casco no cais, ao sabor das águas calmas da enseada, que lhes embalava os corpos.
- Podes parar o tempo? Podes por favor pará-lo? enroscou-se-lhe no peito, rodou ligeiramente o rosto e suspirou, - se falasses como se me amasses...
- Mas falo. Quando chego já sei que é o teu corpo que me espera e quando o sinto sei que existo.
beijou-o, sôfrega,as mãos ávidas do seu rosto. não queria aportar, aportar era chegar, pisar calçadas e perder o balanço das marés.
- Faz parar o tempo, meu amor, leva-me de volta ao mar.
Estranhou-lhe o gosto, o destino. Achava ele que era tempo de aportar. Apertou-a forte contra o peito.
- Se me falasses como se me amasses, repetiu-lhe. Acariciou-lhe o rosto e adormeceu.
faiscou na alba. Queriam-se quando os outros a sentiam.
segunda-feira, 17 de abril de 2017
suave dança o feno
suave dança o feno no meu corpo.
envolve-me de carícias quentes, breves línguas de fogo, que me afagam a pele.
toca-me o feno, romanceia-me murmúrios sedosos e deito-me nua. Escuto as papoilas, mariposas dos prados de além. sorriem por entre o feno e vestem-me o corpo de diafános vermelhos.
suave dança o feno no meu corpo, quando chegas.
despes-me das pétalas, deitas-te comigo e envolves-me de carícias.
agitam-se as papoilas quando me murmuras ternuras.
enche-se o horizonte de silêncios. suave dança o feno no meu corpo
segunda-feira, 10 de abril de 2017
instantes
sei que suspiras quando sentes que me encosto a ti
e depois, cerras os olhos
gosto das paisagens interiores. gosto da tua, como se fosse sempre sedução.
estava então de manhã
a areia quente tinha o calor do teu corpo no meu
e deslizou em mim quando a soltaste dos teus dedos
num instante..
instantes onde o orgasmo é eterno
instantes em que te amo
instantes em que não existo
instantes em que te quero
estava então o entardecer
chovias, apenas chovias.
abri a porta e encharquei-me de ti
sei que suspiras quando estás em mim
quinta-feira, 9 de março de 2017
o exótico aroma do funcho
caminhava no silêncio do trilho. soava ao restolhar leve do tojo e das urzes e ao exótico cheiro do funcho. Chegou a Duas Pedras. uma quase ausente fenda coloria de azul o vazio que as unia. Do lado da sombra descansou o olhar e respirou de novo lenta e tranquilamente. Passou por sob a fendida e incompleta abóboda de Duas Pedras rumo à luz.
- Onde vais? perguntou-lhe
olhou e viu as letras soltas das palavras que não sabia se queria dizer. - Para além, respondeu.
- ...além?!
pareciam desenhar ilhas, as aparentes palavras. - Perdi-me do pensamento. Sei-o mais além, disse.
- Tenho um talo de funcho. Queres?
- Humm...sabia-o sem nome, sei-lhe o aroma e o gosto.
Olhou-o. Pareceu-lhe bem. tinha um brilho forte e doce no castanho escuro do olhar. dedos esguios em pele morena e um talo de funcho mascado no canto dos lábios grossos.
Sentaram-se no degrau primeiro e mascaram funcho.
- dás-me a mão?
navegou por entre as ilhas das palavras que não sabia se queria dizer.
- quero ir contigo mais além.
deu-lhe a mão e escalaram os degraus cravados na pedra. Não havia porta, nem corredor. abriram o azul e entraram no pensamento.
Na pequena frincha do lenho da pedra, no topo dos degraus, cheira ao exótico aroma do funcho verde.
quarta-feira, 25 de janeiro de 2017
o silêncio das horas quentes
fixou o olhar na fina e curta haste de cana, pintada de verde garrafa a esmaecer e bailou os olhos no subtil balancear da cortina que as juntas de arame teciam entre todas as hastes. Quase iguais gingavam desencontradas em danças lentas, no princípio das tardes, no silêncio dos dias quentes.
Benedita gostava de se sentar no beiral da porta, pernas além da cortina, no topo do patamar da escada de pedra onde o Sol espevitava toques quentes que se lançavam cortina adentro por entre os desencontrados pedaços de cana e lhe beijavam pedacinhos diferentes do corpo. fugiam-lhe por entre os dedos aquelas borboletas de luz sempre que as procurava agarrar. olhava então a dança lenta das canas e inventava batotas puxando com as mãos o tecido de arame soltando-o num balanço forte e denso que atropelava o silêncio da hora mais quente.
- Benedita - arrastava a avó em tom zangado e sonolento de uma sesta estragada - já entraram os moscos...é no que dá andares com a canalha, nunca estás queda...deixa a cortina quietinha, Benedita..
e terminava num bocejo cabeceado enquanto se lhe fechavam os olhos para o resto da sesta. Sentada no mocho, que de Inverno a acachava à lareira, mastigava a saliva enquanto enxotava o mosco que lhe poisara na orelha "catano do mosco" ruminava e logo dormia.
...o silêncio da hora mais quente sentava-se do lado de fora da cortina verde de caniços. Benedita suspirou devagarinho, pensou as palavras não ditas, e disse: - vó, gosto de ti, estava a esquecer de te dizer.
os caniços verdes da cortina guardaram segredo. só o murmuram no silêncio das horas quentes.
domingo, 15 de janeiro de 2017
a gata parda
e tu que sabes dos dias ausentes de carícias se te ausentaste de mim?
sentou-se na borda do passeio. era um tempo em que ainda se podia sentar na borda do passeio. a saia de pregas finas, de tecido a perder o engomado, resvalou-lhe pelas coxas que envolveu nos braços ao encostar o rosto nos joelhos. Ficou-lhe o olhar perdido no empedrado, ao som das caricas jogadas mais acima na borda do passeio, enquanto laboreava bolhinhas de saliva que se iam dissolvendo, como os sonhos.
aconchegou-a o calor do sol, sem ser ardente. rodou o rosto e deixou-se apenas a mirar bolhinhas de saliva a lampejar, como estrelas cadentes. Na berma do outro lado olhava-a a gata parda. Benedita fez uma grande bolha de saliva que se desfez em plof, e a gata parda lambiscou-lhe os joelhos mesmo acima das meias xadrez. Benedita espreguiçou-se, igual à gata, lânguida e sonolenta.
o rapaz da franja escorrida perguntou-lhe: posso fazer bolhinhas contigo?
- Sim, podes, disse Benedita. Esta é a gata parda, sabes.
E fizeram bolhinhas de cuspo ao calor médio da tarde, até não apetecer mais
e tu que sabes dos dias ausentes de carícias se te ausentaste de mim?
Ah! estou na berma do passeio, com a gata parda.
segunda-feira, 2 de janeiro de 2017
sopro cálido
hoje quero-te.
estava cinzento o dia, pegava-se a cor ao corpo e aos cabelos. levei-te comigo para além da porta. a árvore grande gemia com o sincelo, tão belo e tão frio. segredaste-me em sopro cálido "quero-te" e encontrei-te, nu e quente no meu corpo. escorregámos nas folhas húmidas da manhã. o meu ventre junto ao teu, a tua boca ávida no meu rosto, na minha boca. levaste-me dentro de ti, pelo trilho do frio.
segredaste.me em sopro cálido "querida". a árvore grande agitou os ramos e vestimo-nos de sincelo. e disseste "és bela". Foi quando me desnudei, a alma purgada do frio, o teu coração a bater no meu.
hoje quero-te e quero-te ao raiar de cada manhã. o teu olhar no meu, o meu ventre junto ao teu.
estava cinzento o dia, pegava-se a cor ao corpo e aos cabelos. levei-te comigo para além da porta. a árvore grande gemia com o sincelo, tão belo e tão frio. segredaste-me em sopro cálido "quero-te" e encontrei-te, nu e quente no meu corpo. escorregámos nas folhas húmidas da manhã. o meu ventre junto ao teu, a tua boca ávida no meu rosto, na minha boca. levaste-me dentro de ti, pelo trilho do frio.
segredaste.me em sopro cálido "querida". a árvore grande agitou os ramos e vestimo-nos de sincelo. e disseste "és bela". Foi quando me desnudei, a alma purgada do frio, o teu coração a bater no meu.
hoje quero-te e quero-te ao raiar de cada manhã. o teu olhar no meu, o meu ventre junto ao teu.
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