não sabia o que fazer com a ternura, parecia que a ternura a despia e de seguida ficava nua, por dentro.
Às vezes doíam-lhe os abraços.
Em defesa da língua portuguesa, este blog não adopta o "Acordo Ortográfico" de 1990 devido a este ser inconstitucional, linguísticamente inconsistente, estruturalmente incongruente (para além de, comprovadamente, ser causa de crescente iliteracia em publicações oficiais e privadas, na imprensa e na população em geral)
quarta-feira, 18 de novembro de 2015
sábado, 14 de novembro de 2015
viajar
estava desconhecida a estrada, que era o que não era, um trilho estreito por entre tojos e rochas e um vale profundo. parecia não levar aos lugares do fundo mas eu levava-te comigo e na viagem tocavas o pedacinho de sol que me aquecia as brincadeiras no largo da igreja, sonhavas comigo as correrias por entre as canas altas do milho, choravas comigo algumas lágrimas esquecidas.
gosto de te levar, que viajes dentro de mim, que num instante entres pela minha história e ouças as cigarras que eu ouvi e tenhas entre as mãos o mesmo luzir dos pirilampos que eu escondi.
e de repente estás ali, no fundo das escadas, onde as carochas se passeiam por entre os nossos passos e dizes: - minha mãe dá licença? quantos passos? e avanças e recuas conforme te quero tão perto ou quase tão perto....
viajas dentro de mim quando ousas passear nas minhas memórias.
gosto de te levar, que viajes dentro de mim, que num instante entres pela minha história e ouças as cigarras que eu ouvi e tenhas entre as mãos o mesmo luzir dos pirilampos que eu escondi.
e de repente estás ali, no fundo das escadas, onde as carochas se passeiam por entre os nossos passos e dizes: - minha mãe dá licença? quantos passos? e avanças e recuas conforme te quero tão perto ou quase tão perto....
viajas dentro de mim quando ousas passear nas minhas memórias.
segunda-feira, 9 de novembro de 2015
no infinito
seguiam pelo trilho junto ao mar, de mãos dadas, os ombros lassos e descansadamente encostados um no outro. O sol brilhava a fim de tarde, num brando calor rasgado de vermelhos intensos.
- quisera que sempre assim o dia fosse e tu me olhasses tão brando quanto a luz do sol e quero, meu amor, que me leves na tua barca até ao infinito. Sindala parou, rodeou-lhe a nuca com os braços e beijou-lhe mansamente a linha da orelha.
- que doces os teus lábios, que belo o brilho dos teus olhos, segredou-lhe. Ao infinito, e sorriu, sim levo-te até ao infinito.Sabes onde fica?
Sindala olhou-o, segurou-lhe o rosto entre as mãos e encostou-lhe, leves, os lábios.
- Não, não sei. Sei que desde o dia em que chegaste, me disseste que um dia me levavas ao infinito. Fica onde, então?
- Aqui, entre mim e ti, no calor que o teu corpo deixa no meu, tão brando quanto a luz do sol do fim de tarde tão intenso quanto os vermelhos do horizonte.
- Leva-me...
- Levo-te...
entrelaçaram os dedos, subiram na barca e navegaram no infinito
quinta-feira, 5 de novembro de 2015
dançou
a música era quente, voluptuosamente ardente. envolveu-se-lhe no corpo, o som das teclas e dos metais, a cadência dos tons secos da bateria.
sentia-lhes o olhar preso no gingar das pernas e no balancear do peito. elevou o rosto, e em mirada de subtil erotismo sorriu e dançou.
ondeou o corpo, um maneio das ancas num lento frémito dos ombros. envolveu-se nos braços, afagou-se em suaves toques sobre o ventre, sobre os seios. o corpo em doce e lento velejo, os olhos cerrados, e a música.
os sons eram quentes, voluptuosamente ardentes.
sentia-lhes o olhar preso no gingar das pernas e no balancear do peito. elevou o rosto, e em mirada de subtil erotismo sorriu e dançou.
ondeou o corpo, um maneio das ancas num lento frémito dos ombros. envolveu-se nos braços, afagou-se em suaves toques sobre o ventre, sobre os seios. o corpo em doce e lento velejo, os olhos cerrados, e a música.
os sons eram quentes, voluptuosamente ardentes.
quarta-feira, 4 de novembro de 2015
quando o azul se apaga
havia uma linha no horizonte. de um lado fazia azul, do outro mesclavam-se verdes e castanhos. no azul corriam sonhos brancos que às vezes tocavam o outro lado da linha. quando se tocavam derramava-se o azul nos verdes e castanhos e a terra preenchia-se de céu.
Nesses dias amavam-se as deusas e os homens. escolhiam os desertos e desenhavam flores por sobre as areias quentes
havia uma casa, talvez a sombra de uma casa na linha do horizonte. imiscuía-se no azul. do outro lado, para lá do horizonte, havia outra linha. de um lado fazia azul e do outro também. corriam nos azuis espumas brancas, que se tocavam em gotas, sopros de águas. quando se tocavam enchiam-se os rios de chuvas e os mares beijavam os céus.
Nesses dias amavam-se os deuses e as mulheres. escolhiam as eternas neves e desenhavam flores por sobre os gelos quentes.
caminhava por sobre o horizonte. um fio, uma linha, tão frágil...tão frágil.
sentou-se no horizonte, recostada no azul, mas os deuses andavam ausentes. nesses dias amavam as mulheres e as deusas sabia-se que amavam os homens.
tão frágil na linha do horizonte. olhou-me, os olhos profundamente ausentes de tão presentes. puxou a linha do horizonte e apagou o azul.
Nesses dias amavam-se as deusas e os homens. escolhiam os desertos e desenhavam flores por sobre as areias quentes
havia uma casa, talvez a sombra de uma casa na linha do horizonte. imiscuía-se no azul. do outro lado, para lá do horizonte, havia outra linha. de um lado fazia azul e do outro também. corriam nos azuis espumas brancas, que se tocavam em gotas, sopros de águas. quando se tocavam enchiam-se os rios de chuvas e os mares beijavam os céus.
Nesses dias amavam-se os deuses e as mulheres. escolhiam as eternas neves e desenhavam flores por sobre os gelos quentes.
caminhava por sobre o horizonte. um fio, uma linha, tão frágil...tão frágil.
sentou-se no horizonte, recostada no azul, mas os deuses andavam ausentes. nesses dias amavam as mulheres e as deusas sabia-se que amavam os homens.
tão frágil na linha do horizonte. olhou-me, os olhos profundamente ausentes de tão presentes. puxou a linha do horizonte e apagou o azul.
segunda-feira, 26 de outubro de 2015
toma-me a boca
meu doce amado o mel do teu olhar deixa-me louca
ai doce amor o sabor do teu beijar toma-me a boca
e escondo-me por entre o arvoredo das águas calmas
e se me encontras e se me tocas, estás na minha alma
ai doce encosto, que no meu corpo és quente outono
meu doce fado que em mim te embalas em calmo sono
leva-me pelas veredas das florestas encantadas
e se me encontras e se me tocas...sou eu, a tua amada
florescem rosas pelos caminhos,
doces olores, doces destinos
meu doce amor toma-me a boca
meu doce amor deixa-me louca
sexta-feira, 23 de outubro de 2015
o lugar da alma
foi passear pela alma. tinham-lhe dito que era branca e leve e que tremia com as emoções.
Benedita não sabia bem o que eram as emoções, mas quando a mãe lhe afagara os cabelos e lhe soprara a oração ao anjo da guarda sentira um suspiro no peito. foi quando a mãe lhe disse que era a alma a pular de contentamento.
Decidiu passar a gostar da sua alma porque era bom senti-la dentro do peito, aos pulos. a mãe tinha-lhe dito que os contentamentos eram como passarinhos, e sempre que se voava a alma ficava feliz.
sentou-se no cimo das escadas traseiras. verdejavam os campos de ervas altas e havia andorinhas no céu. a gata vadia estendia-se no degrau logo abaixo dos seus pés. o sol já fugira do horizonte e começara a luz do lusco-fusco.
Benedita pôs a mão sobre o peito para sentir os pulos da alma. Fechou os olhos e esperou que luzissem os pirilampos. o pai dizia que alumiavam o caminho até à alma.
Quando a alma saltou e abriu os olhos, luziram mil pirilampos.
Benedita tremeu de emoção. A alma sorriu, Benedita também.
Benedita não sabia bem o que eram as emoções, mas quando a mãe lhe afagara os cabelos e lhe soprara a oração ao anjo da guarda sentira um suspiro no peito. foi quando a mãe lhe disse que era a alma a pular de contentamento.
Decidiu passar a gostar da sua alma porque era bom senti-la dentro do peito, aos pulos. a mãe tinha-lhe dito que os contentamentos eram como passarinhos, e sempre que se voava a alma ficava feliz.
sentou-se no cimo das escadas traseiras. verdejavam os campos de ervas altas e havia andorinhas no céu. a gata vadia estendia-se no degrau logo abaixo dos seus pés. o sol já fugira do horizonte e começara a luz do lusco-fusco.
Benedita pôs a mão sobre o peito para sentir os pulos da alma. Fechou os olhos e esperou que luzissem os pirilampos. o pai dizia que alumiavam o caminho até à alma.
Quando a alma saltou e abriu os olhos, luziram mil pirilampos.
Benedita tremeu de emoção. A alma sorriu, Benedita também.
quinta-feira, 22 de outubro de 2015
murmuram-lhe os ventos
quando caminhou não havia chão. havia o tempo e andavam quentes os dias. caminhou pelas sombras como se fosse chão, o calor insidiosamente penetrante no seu corpo.
perdeu os dedos na areia. deixou que o areal lhe tomasse os tornozelos. assomaram-se os ventos espessos e as areias envolveram-lhe o corpo.
- perde-te comigo...hoje, murmuraram-lhe os ventos
quando o amou não havia corpo. havia o murmúrio e andavam soltos os sons. caminhou-lhe os recantos, os beijos e os afagos...a memória insidiosamente penetrante no seu olhar.
perdeu os dedos no entrelaçar da anca com a perna, onde a pele é doce e sedosa. deixou-se despir de areias. assomou-lhe o anseio dele e perdeu-se em espessos ventos, com ele.
domingo, 11 de outubro de 2015
vestida de vento
âs vezes vestia-se de vento. Abria a janela e envolvia-se no castanho doce das folhas voadoras.
sabia-lhe o corpo a desejo de uma aragem que não despia. um vento cálido e forte que sob as folhas lhe afagava a pele.
e queria-o, tal qual como se vento fora, cálido e forte, uma aragem que não despia.
Ali vestia-se de vento. abria a janela e nele se envolvia.
sexta-feira, 2 de outubro de 2015
te quiero
hoje acordei atrás do teu olhar. Era de manhã e eu queria-me em ti. soava-me o corpo ao fresco matinal de Setembro e havias de me envolver em morna ternura...logo mais.
- me gustas...
sussurravam em alvoroço os teus dedos no meu peito e no meu rosto. Ficava cálida a tarde de Setembro e o teu olhar amava-me...a mim.
- Te quiero...
não sei se me beijaste, como me beijaste, sei que dancei os meus lábios nos teus beijos. e era sempre Setembro, quando as terras se despem e o teu corpo dançava...no meu.
estás no meu olhar, onde danço os teus beijos e é Setembro, quando as terras se despem.
quinta-feira, 23 de julho de 2015
Só eu e tu
será que sei de mim?
Sei que sinto o teu sopro no lóbulo da minha orelha, daquela vez em que respiraste o toque dos teus dedos na linha do meu pescoço e o meu ventre se colou ao teu.
será que sei de ti?
Sei que a luz linda do meu olhar permanece nos beijos que afloraste no meu dorso e o teu ventre se colou ao meu.
Será que sei de mim? Será que sei de ti?
Tu respiras no meu ventre e viajas na luz do meu olhar e eu sou sopro eterno no teu corpo.
Foi daquela vez em que me olhaste.
Só eu e tu. E parado, todo o mundo.
Sei que sinto o teu sopro no lóbulo da minha orelha, daquela vez em que respiraste o toque dos teus dedos na linha do meu pescoço e o meu ventre se colou ao teu.
será que sei de ti?
Sei que a luz linda do meu olhar permanece nos beijos que afloraste no meu dorso e o teu ventre se colou ao meu.
Será que sei de mim? Será que sei de ti?
Tu respiras no meu ventre e viajas na luz do meu olhar e eu sou sopro eterno no teu corpo.
Foi daquela vez em que me olhaste.
Só eu e tu. E parado, todo o mundo.
quarta-feira, 15 de julho de 2015
os dias vertiginosos
o dia tinha sido vertiginoso. tão vertiginoso que nem chegara a existir. Desconfiava que viajava no tempo pois por vezes acontecia no amanhã sem ter passado por hoje. Foi então que descobriu que precisava de âncoras. Eram pequenos pedaços de papel que largava nos amanhãs para não perder os dias vertiginosos.
Era assim que segurava o tempo e vivia devagar os dias.
Era assim que segurava o tempo e vivia devagar os dias.
domingo, 12 de julho de 2015
o vento
o vento soprou-me até ti
e a lua dançou, meu amor no olhar
meu amor no sonho, meu amor na cor
meu amor perdi-me no vento a soprar
descansei na flor de um jardim
acordei na luz de um raio de luar
meu amor no sonho, meu amor na cor
meu amor na barca no mar a vogar
e o vento soprou-te até mim
e o teu corpo fez-se no meu sedução
meu amor no sonho, meu amor na cor
meu amor no tempo da nossa paixão
Meu amor o vento já está a passar....
e a lua dançou, meu amor no olhar
meu amor no sonho, meu amor na cor
meu amor perdi-me no vento a soprar
descansei na flor de um jardim
acordei na luz de um raio de luar
meu amor no sonho, meu amor na cor
meu amor na barca no mar a vogar
e o vento soprou-te até mim
e o teu corpo fez-se no meu sedução
meu amor no sonho, meu amor na cor
meu amor no tempo da nossa paixão
Meu amor o vento já está a passar....
segunda-feira, 22 de junho de 2015
chamaram-lhe eternidade
tinham decidido amar-se na incerteza.
Pôs-se em bicos de pés e deu-lhe um beijo. quase incerto. gostava de lhe deixar um assomo de meiguice, quando lhe humedecia os lábios e logo pousava os pés no chão. depois fugia e escondia-se na eternidade.
ele gostava de a encontrar, na eternidade, e perder-se em carícias, incertas. Num assomo de meiguice humedeceu-lhe os lábios e encantou-lhe o olhar.
Fugiram para a incerteza e chamaram-lhe eternidade.
Pôs-se em bicos de pés e deu-lhe um beijo. quase incerto. gostava de lhe deixar um assomo de meiguice, quando lhe humedecia os lábios e logo pousava os pés no chão. depois fugia e escondia-se na eternidade.
ele gostava de a encontrar, na eternidade, e perder-se em carícias, incertas. Num assomo de meiguice humedeceu-lhe os lábios e encantou-lhe o olhar.
Fugiram para a incerteza e chamaram-lhe eternidade.
sábado, 30 de maio de 2015
a árvore grande
encontra-me.
perdi-me porque queria que me encontrasses. depois não encontrei o caminho ou foste tu que cruzaste outras paixões.
Fiquei eu na floresta encantada e havia um rio que enfeitiçava o tempo. havia nele uma barca a que faltavam as velas e o vento não soprava.
no galho da árvore grande estava um pássaro poisado. sentei-me no ancoradouro, a água a beijar-me os pés, tapei os olhos e contei até dez. Cuidei que te escondias.
procurei-te porque não me encontravas, mas não estavas atrás das árvores nem entre as ervas. sabia-te na barca. Puxei devagarinho a corrente do rio e deixei-te largar âncora.
Encostei-me na árvore grande. o pássaro poisou-me no ombro e bicou-me a orelha.
disseste-me, enquanto me apertavas ao peito e me olhavas o rosto, que também tinhas tapado os olhos e contado até dez, para me encontrares.
acordei com borboletas desenhadas na paisagem e a barca a baloiçar no rio onde não sopra vento.
quero que me encontres quando tapas os olhos e contas até dez...estou atrás da árvore grande.
perdi-me porque queria que me encontrasses. depois não encontrei o caminho ou foste tu que cruzaste outras paixões.
Fiquei eu na floresta encantada e havia um rio que enfeitiçava o tempo. havia nele uma barca a que faltavam as velas e o vento não soprava.
no galho da árvore grande estava um pássaro poisado. sentei-me no ancoradouro, a água a beijar-me os pés, tapei os olhos e contei até dez. Cuidei que te escondias.
procurei-te porque não me encontravas, mas não estavas atrás das árvores nem entre as ervas. sabia-te na barca. Puxei devagarinho a corrente do rio e deixei-te largar âncora.
Encostei-me na árvore grande. o pássaro poisou-me no ombro e bicou-me a orelha.
disseste-me, enquanto me apertavas ao peito e me olhavas o rosto, que também tinhas tapado os olhos e contado até dez, para me encontrares.
acordei com borboletas desenhadas na paisagem e a barca a baloiçar no rio onde não sopra vento.
quero que me encontres quando tapas os olhos e contas até dez...estou atrás da árvore grande.
quinta-feira, 7 de maio de 2015
amar, de madrugada
a luz da aurora acariciava-lhe o corpo. pintava-a de cores de sombra por onde ele escondia os dedos e beijava desejos.
gostava de lhe dar o corpo na luz pálida da manhã, quando amanhecia devagarinho...
adormeceram no sonho da alvorada. quente o sopro que lhe tocava o ventre. E o rosto dele descansado no seu peito.
gostava de lhe olhar as espáduas e tocar-lhe de mansinho com os dedos, como se fosse a alba a matizar o negro do céu.
aconchegava-se-lhe num jeito abandonado de fazer parte do nascer do dia, e parava o tempo. Porque pode parar-se o tempo quando se ama de madrugada.
- Ainda havemos de ser felizes - disse-lhe.
- sim, havemos....
Sorriu-lhe, abriu a porta e levou-o ao arco-íris.
gostava de lhe dar o corpo na luz pálida da manhã, quando amanhecia devagarinho...
adormeceram no sonho da alvorada. quente o sopro que lhe tocava o ventre. E o rosto dele descansado no seu peito.
gostava de lhe olhar as espáduas e tocar-lhe de mansinho com os dedos, como se fosse a alba a matizar o negro do céu.
aconchegava-se-lhe num jeito abandonado de fazer parte do nascer do dia, e parava o tempo. Porque pode parar-se o tempo quando se ama de madrugada.
- Ainda havemos de ser felizes - disse-lhe.
- sim, havemos....
Sorriu-lhe, abriu a porta e levou-o ao arco-íris.
quarta-feira, 25 de março de 2015
fugaz
..... esqueceu o olhar.
encontrou a flor parada, tão bela. Não tinha destino.
....esqueceu o olhar no tempo
seguiu na berma da estrada. a flor no seu encalce, tão bela.
...esqueceu que tinha tempo de olhar.
parou no topo da colina. fugaz o tempo da flor, tão belo.
...esqueceu-se no tempo da flor
...fugaz
...tão belo
acordou no olhar que nela se esqueceu
encontrou a flor parada, tão bela. Não tinha destino.
....esqueceu o olhar no tempo
seguiu na berma da estrada. a flor no seu encalce, tão bela.
...esqueceu que tinha tempo de olhar.
parou no topo da colina. fugaz o tempo da flor, tão belo.
...esqueceu-se no tempo da flor
...fugaz
...tão belo
acordou no olhar que nela se esqueceu
domingo, 22 de março de 2015
de mansinho
tocou-lhe a boca de mansinho, como se fosse sempre e o mundo acabasse ali. adornou-lhe os rosto com as mãos e a língua viajou-lhe doce pelos lábios. Foi quando o tempo parou. apenas a boca dele na sua, lábios secos que os beijos saciavam e queria os olhos dele nos seus poisados. Ofegantes, olhavam-se de espanto ardente.
- beija-me assim, devagarinho...
E ela beijou-o, tocou-lhe os lábios de mansinho como se fosse sempre...e o mundo acabou ali.
- beija-me assim, devagarinho...
E ela beijou-o, tocou-lhe os lábios de mansinho como se fosse sempre...e o mundo acabou ali.
sexta-feira, 20 de março de 2015
não era para ser já
era uma vez o meu pai!
queria que fosse como era uma vez, uma história de encantar que eu pudesse contar...
era uma vez..?
ah! centenas e centenas e milhares de era uma vez.
uma vez pescou-me do lago dos cisnes...tinha a fatiota domingueira, saia de pregas branca e casaquinho de malha rosa, contava ele, e na passeata habitual antes da missa que incluía dar pão aos cisnes, zás! caí no lago...
Ah! milhares de milhões de era uma vez.
- Sabes Lia, um dia não cheguei a tempo de ele me tirar do lago e o universo ficou pequenino. ele pôs-me a Terra na mão, uma bola redonda achatada nos pólos, sorriu para mim e disse-me: não era para ser já mas decidi dar-te o mundo em vez da lua.
- O vôvô ve`inho, vó?
- Sim princesa. fez-se depois noite escura, as estrelas não chegavam para me alumiarem e eu tinha o planeta fechado na minha mão. Creio até que o mar deixou de ser azul....
- ainda não fomos à p`aia, vó - disse Lia, lavantando os ombritos e inclinando o rosto com o seu olhar grande e interrogativo
- pois não Lia, mas depois vamos. um dia, quando tu nasceste, abri a mão e o mundo voou no universo grande. o meu pai colou no céu a lua e agora o mar já é azul...
............................................................................................................................................................
- Contas mais amanhã, `vó?
- conto, Lia.
era um universo de era uma vez...
queria que fosse como era uma vez, uma história de encantar que eu pudesse contar...
era uma vez..?
ah! centenas e centenas e milhares de era uma vez.
uma vez pescou-me do lago dos cisnes...tinha a fatiota domingueira, saia de pregas branca e casaquinho de malha rosa, contava ele, e na passeata habitual antes da missa que incluía dar pão aos cisnes, zás! caí no lago...
Ah! milhares de milhões de era uma vez.
- Sabes Lia, um dia não cheguei a tempo de ele me tirar do lago e o universo ficou pequenino. ele pôs-me a Terra na mão, uma bola redonda achatada nos pólos, sorriu para mim e disse-me: não era para ser já mas decidi dar-te o mundo em vez da lua.
- O vôvô ve`inho, vó?
- Sim princesa. fez-se depois noite escura, as estrelas não chegavam para me alumiarem e eu tinha o planeta fechado na minha mão. Creio até que o mar deixou de ser azul....
- ainda não fomos à p`aia, vó - disse Lia, lavantando os ombritos e inclinando o rosto com o seu olhar grande e interrogativo
- pois não Lia, mas depois vamos. um dia, quando tu nasceste, abri a mão e o mundo voou no universo grande. o meu pai colou no céu a lua e agora o mar já é azul...
............................................................................................................................................................
- Contas mais amanhã, `vó?
- conto, Lia.
era um universo de era uma vez...
terça-feira, 17 de março de 2015
papoilas
quando te olho....quando me olhas
tocas-me a mão e largamos estrada fora
deitas-te comigo entre tufos de papoilas
segredas-me pedacinhos de pérolas e
despes-me a alma.
quando te toco...quando me tocas
estremeces-me.
largamos o mundo e voamos, eu e tu.
encostas o teu mundo no meu colo
e no teu cabelo crescem papoilas
quando voltamos...
tocas-me e como me olhas!
em mim brotam papoilas
tocas-me a mão e largamos estrada fora
deitas-te comigo entre tufos de papoilas
segredas-me pedacinhos de pérolas e
despes-me a alma.
quando te toco...quando me tocas
estremeces-me.
largamos o mundo e voamos, eu e tu.
encostas o teu mundo no meu colo
e no teu cabelo crescem papoilas
quando voltamos...
tocas-me e como me olhas!
em mim brotam papoilas
segunda-feira, 16 de março de 2015
domingo, 15 de março de 2015
o fio do tempo
corria um vento brando, tão brando como o teu corpo à procura de mim.
encontraste-me no fio do tempo.
os teus dedos afloraram a minha pele, correram em brisa leve todo o meu rosto, tocaram-me a nuca e os seios.
dancei o meu corpo no teu. acordaste o teu corpo no meu.
perdi-te no fio do tempo.
corre uma brisa tão leve, tão leve. é o meu corpo à procura do teu.
terça-feira, 10 de março de 2015
para lá do cortinado vermelho
gosta-se das igrejas quando se convive com elas.
estava um dia médiamente quente. médiamente porque ainda não era Inverno mas também não era Verão. Faltava também o cheiro da Primavera e as folhas de Outuno.
Sabia Benedita que era dia de brincar ao dá-me lume. Juntavam-se lá, no terreiro da igreja, saítas plissadas e meias desmanchadas sobre os tornozelos, fixando nos cantos a casa de cada uma e ao centro a que procurava ocupar a vaga que alguma, por descuido ou lassidão, deixava a tempo de ser ocupada enquanto demandava por lenha para o seu lume.
quis esse dia que a porta da igreja a cativasse para o que lá dentro se passava.
Benedita era uma assídua frequentadora da nave. deslumbrava-se com as descobertas feitas fora das horas da missa. a igreja era sua! rodopiava por uma espécie de balustrada que circundava todo o interior e que a aproximava dos altares menores onde estava Cristo com a cruz ou Nossa Senhora das Dores com Jesus feito Homem, morto no seu regaço. Por vezes passavam de joelhos as senhoras das promessas, que davam várias voltas à balustrada, parando em cada altar para dar voz ao mistério. Nessas horas os grandes candelabros não tinham luz, a igreja iluminava-se com o bruxulear das velas acesas em todos os altares e com o silêncio que o sussurro das orações projectava na alta abóbada. Benedita gostava daquele escuro assim iluminado, descansava-lhe o olhar.
não devia entrar, assim lhe poibira a mãe para os dias em que apenas a porta pequena se abria mas por a cativar, assim entrou. hesitou em sair do cone de luz da rua que se esgueirava pelo cortinado de veludo vermelho para entrar na sombra iluminada pelas velas, porque a mãe bem lhe prometera o puxão de orelhas se a soubesse nessas andanças. Hesitou e deu um passo. ficou timidamente distante dos sons que perpassavam o silêncio frio da igreja.
Lá fora não era nem Inverno, nem Primavera. Nem o Sol arrasava de calor, nem os frutos de Outono se colhiam. Estava um dia cinzento, médiamente cinzento como o enterro que soltava soluços e suspiros dentro da igreja,
Benedita gostava daquela igreja, gostava mais até dos dias dos casamentos ou das idas ao lado de lá das grades do convento. mas nestes dias, dias médiamente, animava-a o poder escapar ao puxão de orelhas que a mãe prometia.
estava um dia médiamente quente. médiamente porque ainda não era Inverno mas também não era Verão. Faltava também o cheiro da Primavera e as folhas de Outuno.
Sabia Benedita que era dia de brincar ao dá-me lume. Juntavam-se lá, no terreiro da igreja, saítas plissadas e meias desmanchadas sobre os tornozelos, fixando nos cantos a casa de cada uma e ao centro a que procurava ocupar a vaga que alguma, por descuido ou lassidão, deixava a tempo de ser ocupada enquanto demandava por lenha para o seu lume.
quis esse dia que a porta da igreja a cativasse para o que lá dentro se passava.
Benedita era uma assídua frequentadora da nave. deslumbrava-se com as descobertas feitas fora das horas da missa. a igreja era sua! rodopiava por uma espécie de balustrada que circundava todo o interior e que a aproximava dos altares menores onde estava Cristo com a cruz ou Nossa Senhora das Dores com Jesus feito Homem, morto no seu regaço. Por vezes passavam de joelhos as senhoras das promessas, que davam várias voltas à balustrada, parando em cada altar para dar voz ao mistério. Nessas horas os grandes candelabros não tinham luz, a igreja iluminava-se com o bruxulear das velas acesas em todos os altares e com o silêncio que o sussurro das orações projectava na alta abóbada. Benedita gostava daquele escuro assim iluminado, descansava-lhe o olhar.
não devia entrar, assim lhe poibira a mãe para os dias em que apenas a porta pequena se abria mas por a cativar, assim entrou. hesitou em sair do cone de luz da rua que se esgueirava pelo cortinado de veludo vermelho para entrar na sombra iluminada pelas velas, porque a mãe bem lhe prometera o puxão de orelhas se a soubesse nessas andanças. Hesitou e deu um passo. ficou timidamente distante dos sons que perpassavam o silêncio frio da igreja.
Lá fora não era nem Inverno, nem Primavera. Nem o Sol arrasava de calor, nem os frutos de Outono se colhiam. Estava um dia cinzento, médiamente cinzento como o enterro que soltava soluços e suspiros dentro da igreja,
Benedita gostava daquela igreja, gostava mais até dos dias dos casamentos ou das idas ao lado de lá das grades do convento. mas nestes dias, dias médiamente, animava-a o poder escapar ao puxão de orelhas que a mãe prometia.
segunda-feira, 9 de março de 2015
cio
a casa estava preenchida de sons domésticos.
quando olhou parou a conversa.
sabia que podia retomar o diálogo, porque era com o silêncio que falava. desenhou um sorriso magro nos lábios, encostou-se à parede e deixou que a gata lhe roçasse as pernas. sentiu-lhe o toque erótico e nervoso.
os dias do cio preencheram a casa.
quando olhou parou a conversa.
sabia que podia retomar o diálogo, porque era com o silêncio que falava. desenhou um sorriso magro nos lábios, encostou-se à parede e deixou que a gata lhe roçasse as pernas. sentiu-lhe o toque erótico e nervoso.
os dias do cio preencheram a casa.
a viagem
no fim da madrugada caminhamos na procura.
Que boito é ouvir amanhecer!
pássaro um - gosto de voar no espaço.
pássaro dois - a espuma do mar é ainda melhor
ranfb isand noar is u inase
urlxf uosr ira so
um dia vou escolher o nada como tudo
em oposição à invida
ah! como gosto dos libertinos.
(1980)
Que boito é ouvir amanhecer!
pássaro um - gosto de voar no espaço.
pássaro dois - a espuma do mar é ainda melhor
ranfb isand noar is u inase
urlxf uosr ira so
um dia vou escolher o nada como tudo
em oposição à invida
ah! como gosto dos libertinos.
(1980)
olá montanha!
quando o tempo acaba e o sonho começa
inventamos o agora, escrevemos a loucura
acontecemos no Sol
criando, criando vida
olá montanha! Gosto de ti
gosto do teu cheiro verde, dos teus risos-rios
cristalinos
gosto dos teus ventos brisas
de me perder no teu encanto
perder-me no teu corpo
ensaiando todos os passos da minha ternura
percorrer-te na viagem da loucura
ter o teu ombro meigo
os teus beijos ondas
dizer-te:
- bom dia meu amor!
e nunca mais te perder
(1980)
quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015
polvilhos
há viagens em que decidimos outras histórias.
nesse dia mudou de história.
foi buscar umas pedrinhas de sal e polvilhou-as em alguns amores.
queria-os em conserva.
nesse dia mudou de história.
foi buscar umas pedrinhas de sal e polvilhou-as em alguns amores.
queria-os em conserva.
terça-feira, 24 de fevereiro de 2015
imperfeito amor
eis-me eu. sem sombras. um apontamento perfeito na imperfeitude do dia.
espero-te. nas areias do perfeito deserto. percorrem-me o corpo as areias quentes, quando te espero.
quando chegas amas-me imperfeitamente. amar-me-ás por isso eternamente.
espero-te. nas areias do perfeito deserto. percorrem-me o corpo as areias quentes, quando te espero.
quando chegas amas-me imperfeitamente. amar-me-ás por isso eternamente.
sábado, 21 de fevereiro de 2015
depressa andam os dias
às vezes os dias teimavam em passar depressa.
quando aconteciam decidia ir passear até à cidade das formigas. Acocorava-se ao lado do carreiro, cotovelos espetados nos joelhos, as mãos a segurar o rosto e o olhar preso no desfilar eterno das habitantes dos fundos da terra.
as formigas não fugiam, apenas a contornavam ou decidiam subir-lhe pelos sapatos sem qualquer interesse parecido com o interesse que tinha em as observar.
aleatoriamente esmagava uma, e outra, e outra, em diferentes pontos do carreiro e fascinava-se com o agitar das fileiras, o rodopio dos insectos, o mover das antenas em conversas surdas que traduzia para um linguajar de ajuda imaginando a vinda de uma equipa de salvação, que nunca chegava. Apenas permanecia por algum tempo uma espécie de mórbida curiosidade na fila ordenada de formigas que acorriam a um contacto rápido com a companheira moribunda impedida de continuar a sua demanda até ao completo desinteresse.
entendeu mais tarde que não eram companheiras. Não como ela pensava que deviam ser as companheiras. andavam em filas, em eternas filas e o tempo passava devagar.
às vezes os dias teimam em passar depressa.
estou de cócoras, cotovelos espetados nos joelhos, as mãos a segurar os rosto. Corre uma brisa dolente que farfalha as hastes de um feno bravio acoitado por entre saliências rochosas e erva rasteira a mudar para o seco por onde se me prende o olhar em carreiros de formigas
Andam devagar os dias.
quando aconteciam decidia ir passear até à cidade das formigas. Acocorava-se ao lado do carreiro, cotovelos espetados nos joelhos, as mãos a segurar o rosto e o olhar preso no desfilar eterno das habitantes dos fundos da terra.
as formigas não fugiam, apenas a contornavam ou decidiam subir-lhe pelos sapatos sem qualquer interesse parecido com o interesse que tinha em as observar.
aleatoriamente esmagava uma, e outra, e outra, em diferentes pontos do carreiro e fascinava-se com o agitar das fileiras, o rodopio dos insectos, o mover das antenas em conversas surdas que traduzia para um linguajar de ajuda imaginando a vinda de uma equipa de salvação, que nunca chegava. Apenas permanecia por algum tempo uma espécie de mórbida curiosidade na fila ordenada de formigas que acorriam a um contacto rápido com a companheira moribunda impedida de continuar a sua demanda até ao completo desinteresse.
entendeu mais tarde que não eram companheiras. Não como ela pensava que deviam ser as companheiras. andavam em filas, em eternas filas e o tempo passava devagar.
às vezes os dias teimam em passar depressa.
estou de cócoras, cotovelos espetados nos joelhos, as mãos a segurar os rosto. Corre uma brisa dolente que farfalha as hastes de um feno bravio acoitado por entre saliências rochosas e erva rasteira a mudar para o seco por onde se me prende o olhar em carreiros de formigas
Andam devagar os dias.
sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015
uma história navegada
meu amor dá-me uma história navegada
a qual possa no meu peito acalentar
meu amor quero ir contigo na viagem
viajar nesse teu corpo que é o mar
meu amor à nossa espera há uma barca
está num porto e dos ventos resguardada
meu amor levo-te ao tempo da coragem
no meu corpo quando soltas as amarras
há um tempo em que te amo sem cordames
há um tempo em que o mar é a nossa casa
meu amor dá-me uma história navegada
e o meu corpo é a tua barca, a tua amada
a qual possa no meu peito acalentar
meu amor quero ir contigo na viagem
viajar nesse teu corpo que é o mar
meu amor à nossa espera há uma barca
está num porto e dos ventos resguardada
meu amor levo-te ao tempo da coragem
no meu corpo quando soltas as amarras
há um tempo em que te amo sem cordames
há um tempo em que o mar é a nossa casa
meu amor dá-me uma história navegada
e o meu corpo é a tua barca, a tua amada
terça-feira, 13 de janeiro de 2015
entre o teu corpo e o meu
sinto o doce dos teus lábios na minha pele. há uma suave caligrafia quando a tua língua escreve sobre o meu corpo. gosto do que escreves, de como escreves...é húmida a tua escrita.
alojo-me no teu corpo, entre os teus braços. há uma imprudente coreografia quando as tuas pernas me envolvem as ancas. gosto do que danças, de como danças...é tão quente o teu bailado.
acordo sobre o teu peito. há um jeito doce na tua mão poisada sobre o meu seio e um suave murmúrio no bater do teu coração. gosto do que respiras, de como respiras...é doce o teu suspiro.
...quando te amo, quando me amas, há uma escrita...entre o teu corpo e o meu.
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